Editorial

Que não seja fogo de palha

O mês era agosto de 2019. Em uma concorrida cerimônia às margens da BR-116 com a presença de prefeitos e vereadores da região, deputados estaduais e federais, do então vice-governador Ranolfo Vieira Júnior (à época no PTB) e do presidente Jair Bolsonaro (ainda no PSL), eram oficialmente entregues à população da Zona Sul do Estado os primeiros 47 quilômetros de pista dupla liberados ao tráfego na rodovia. Ainda no começo de seu governo, o chefe do Executivo sinalizava com firmeza que a conclusão dos 211 quilômetros da estrada entre Guaíba e Pelotas era prioridade. Mais: comprometia-se, a partir dali, a acelerar os trabalhos para que houvesse a finalização da empreitada até dezembro de 2021. Como testemunham diariamente milhares de motoristas, isso não se confirmou.

O mês é março de 2023. Como informa a manchete de ontem do DP, o governo federal confirma a liberação de R$ 234 milhões no orçamento deste ano para custear o andamento da BR-116. Valor que é praticamente a metade do total estimado para a conclusão da duplicação. Com o objetivo de acelerar a obra, a gestão de Lula (PT) compromete-se, ainda que não tenha dito isso com todas as letras, a completar rapidamente os trabalhos iniciados há mais de uma década sob a gestão da petista Dilma Rousseff. Ações estas que, nunca é demais lembrar, tinham prazo previsto de apenas dois anos e, a julgar pela agilidade com que havia sido executada a duplicação da BR-392 entre Pelotas e Rio Grande, davam indícios que poderiam mesmo ser realizadas no cronograma original.

Como aconteceu lá atrás, durante o lançamento e primeiros passos do empreendimento, e depois com os governos que se sucederam e seus discursos e anúncios otimistas, agora novamente se desenha certo clima festivo e de aproveitamento político da pauta. A cada sinal de avanço, surgem os pais e mães da duplicação celebrando e se colocando como responsáveis pelo andamento da obra. Por outro lado, quando ela trava, ninguém se diz igualmente avalista do problema.

A indicação de que estes milhões recentemente liberados serão aplicados para deslanchar trechos parados, inclusive com esforço para relicitação de alguns lotes, é inquestionavelmente positiva. Afinal, pior seria se a população continuasse a conviver com o silêncio e a falta de novidades concretas quanto a este que já foi exaustivamente qualificado como um dos mais importantes investimentos em infraestrutura não só para a Zona Sul - o que seria suficientemente relevante -, mas para todo o Estado. Seja sob a ótica econômica, seja no sentido da segurança que traz a quem circula pela rodovia.

A esperança que se renova pelo indicativo de fim dessa obra acompanha também uma ponta de desconfiança, natural de uma região calejada por promessas de uma nova estrada há mais de dez anos. Que o entusiasmo do governo não repita o mesmo fogo de palha de outros tempos.

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